Com oferta de R$ 33,7 bilhões na bolsa Eletrobras é privatizada.
A aquisição marca a maior privatização de uma empresa brasileira em mais de 20 anos de mercado.
A
oferta de ações que levou à privatização da Eletrobras (ELET3; ELET6) foi
precificada em cerca de R$ 33,7 bilhões, após o preço por ação ter sido fixado
em R$ 42 na noite de quinta-feira, 9, segundo informações do mercado.
Investidores
nacionais e estrangeiros têm disputas acirradas sobre o benchmark, e o reajuste
de preços termina após 20 horas.
A
venda da estatal de energia pela bolsa de valores é a maior campanha de
privatização do país em duas décadas. A participação do governo e do BNDES no
negócio deve cair em torno de 35%.
O
preço de R$ 42 estava com um desconto de 4% em relação ao preço da ação de R$
44 no fechamento do pregão de quinta-feira.
Além
de ser uma das maiores ofertas de ações do mundo em 2022, o negócio da
Eletrobras também é o maior da bolsa brasileira B3, com transferência de 100
bilhões de reais desde a grande capitalização da Petrobras em 2012.
Principais
investidores presentes operações, incluindo o fundo 3G Capital do fundador da
Ambev e o banco Clássico de José Abdalla Filho, que também é acionista
relevante da Petrobras. Levando em conta todos os tipos de investidores, a
demanda total ultrapassará 70 bilhões de reais.
Mas
a oferta da Eletrobrás ganhou grande força com a possibilidade de utilizar
recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações.
Esta
é a primeira vez em quase 20 anos que os trabalhadores brasileiros têm essa chance.
Anteriormente, isso acontecia em trabalhos da Vale e da Petrobras.
Com
essas oportunidades, a procura é forte: cerca de 350 mil pessoas reservam ações
da empresa. A utilização do FGTS está limitada a R$ 6 bilhões, mas a demanda é
de R$ 9 bilhões, ou 50% a mais. Por esse motivo, o valor retido pelos
trabalhadores deve ser reduzido.
Investidores
que fizerem ofertas com o FGTS não poderão alienar o investimento por pelo
menos 12 meses - a menos que em alguns casos, como despedimento sem justa
causa.
Foco
em ganhos de eficiência.
Sobre
a privatização da empresa, fontes do mercado ouvidas pelo Estadão esperam que o
primeiro passo seja a substituição dos executivos e do conselho de
administração da empresa.
À
medida que sua participação diminui, o governo terá menos cadeiras na academia,
abrindo espaço para os fundos de investimento indicarem seus representantes.
A
partir disso, a nova diretoria terá que fazer mudanças radicais na estrutura de
gestão da empresa, incluindo toda a cúpula.
Analistas
do setor acreditam que a empresa pode ter mais espaço para investir, inclusive
em energia limpa. “A Eletrobras será governada da mesma forma que foi
administrada em outros projetos de privatização no setor elétrico europeu.
O
dinheiro utilizado em novos recursos pelo mercado de capitais vai possibilitar
que novos planos de investimento sejam cruciais neste setor”, comentou Fabio Coelho
é presidente da Amec, associação que representa mais de 60 investidores no Brasil
e estrangeiros que investiram mais de 700 bilhões de reais na bolsa brasileira.
Segundo
Coelho, um dos pontos de atenção da “nova Eletrobras” será a conduta para tomar
decisões.
“É
importante dizer que o governo continuará a ser o maior acionista individual e,
como tal, receberá uma porcentagem mais elevada dos lucros esperados, mantendo
assim o interesse público na operação”, comentou.
Com
a privatização, a Eletrobras deve se tornar mais eficiente, disse Lucas
Miglioli, sócio e especialista em relações públicas do PMMF Advogados.
"Ao tornar sua burocracia mais compatível
com a do setor privado, será mais ágil diante do aumento da concorrência e
interessada em novas tecnologias", disse.
"A
expectativa é que, quando não estiver mais sob controle federal, a Eletrobras
deixe de ser apenas uma operadora e assuma o protagonismo nesta área.”
Uma
das expectativas para o público em geral é que as contas de luz sejam mais
baratas, mas pode não ser o caso.
Ulisses
Penachio, sócio e especialista em direito público do PMMF Advogados, avaliou
que apenas uma parte do novo capital — para a Conta de Desenvolvimento
Energético (CDE) — teria condições de reduzir as tarifas. "No médio e
longo prazo, o impacto da privatização nas taxas pode ficar de forma neutra",
observou.
O
que mudou desde a privatização da Eletrobras?
Com
a saída dos sindicatos do controle da Eletrobras, além de melhorar a
rentabilidade, esperamos mudanças para a empresa em termos de operações, gestão
de custos e portfólio, alocação de capital, governança, contingências fiscais e
tributárias.
O
desafio é transformá-la em uma empresa de alto desempenho com capacidade de
investir em crescimento orgânico e inorgânico. Espera-se também que a empresa
atue bastante na transição energética.
Maior
fôlego financeiro para investir em fontes de energia totalmente limpa e novas
tecnologias, corte de custos e despesas, diminuição dos mais de R$ 80 bilhões
em contingências estão entre os ganhos da desestatização analisados por
especialistas, que não acreditam que possa ocorrer no curto prazo, mas faz
parte de um processo que pode demorar muito tempo para ser concluído.
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